Um disco, um filme/série e uma frase
Sextou no meio do feriado!
Sexta-feira no meio do feriado serve pra pouca coisa, né? Mas serve para nos dar mais fôlego para este resto de primeiro semestre e todo o segundo semestre que vem aí!
Na vibe do feriado, vamos com indicações mais leves de disco e série que valem o seu tempo!
Um disco: Planet of Ice - Minus the Bear
Um bar no fim do mundo, meio vazio, com um bartender que fala pouco e serve o melhor uísque da sua vida: eis o cenário perfeito em que Planet of Ice estaria tocando. Não pra embalar a solidão — pra dar sentido a ela. O Minus the Bear não fez esse disco pra tocar em festival, fez pra tocar na cabeça de quem já se perdeu em pensamento no meio de uma conversa que nem queria ter. No meio dos anos 2000, enquanto o indie se apaixonava por refrões fáceis e timbres retrô, eles estavam lá, montando músicas como quem desmonta um relógio suíço só pra ver o que acontece se girar tudo ao contrário.
Planet of Ice é o terceiro disco da banda e é cheio de viradas inesperadas, riffs bem feitos, teclados saídos de um jogo de fliperama existencial e climas que vão do contemplativo ao epilético em poucos compassos. A graça é que nada disso parece gratuito ou aleatório: há uma contenção elegante, uma paciência irritante (no bom sentido) que faz cada faixa crescer aos poucos. É um disco que exige alguma entrega e atenção (raridade nos dias atuais), mas que devolve com interesse.
Entre as faixas, algumas se destacam não porque tentam brilhar, mas porque carregam um peso silencioso que prende o ouvinte. “Knights” tem um groove meio torto que fica na cabeça por dias, com vocais que parecem confessar algo sem realmente dizer o que é. “Dr. L’Ling” é uma jornada inteira em sete minutos, quase progressiva, mas sem as firulas do prog. “Ice Monster” é o lado mais vulnerável do disco, onde a banda mostra que sabe ser emocional sem ser piegas. E “White Mystery” é aquela música feita pra embalar pensamentos que ninguém teve coragem de dizer em voz alta.
O que Planet of Ice entrega não é um disco para todos os momentos — mas, nos momentos certos, ele é tudo. Ele tem cheiro de madrugada, gosto de dúvida, temperatura de silêncio incômodo. E se você escutar com atenção, talvez descubra que esse disco já estava esperando por você há um tempo. Só precisava da hora certa.
Um filme/série: Only Murders in the Building - Disney+
Imagino que, se eu morasse em um prédio como aquele, em Nova York, com hall de mármore, elevador antigo e vizinhos que parecem ter saído de um jantar em 1978 e nunca voltado, provavelmente passaria meus dias evitando qualquer contato humano. Mas em Only Murders in the Building, três inquilinos com tempo demais nas mãos e neuroses de sobra resolvem transformar um assassinato em passatempo e, como se não bastasse, ainda gravam um podcast. É claro que me identifiquei. Não com o crime, mas com o desejo desesperado de dar algum sentido à existência usando fones de ouvido e um microfone barato.
A série tem tudo o que gosto numa história: diálogos rápidos, uma boa dose de autoironia, personagens que falam demais quando deviam calar e calam quando deviam falar. Steve Martin e Martin Short estão brilhantes, cada um encarnando um tipo de homem neurótico que, francamente, me lembra antigos amigos... ou antigos terapeutas. Selena Gomez, por outro lado, parece o tipo de pessoa que me olharia no metrô e imediatamente trocaria de vagão, o que, claro, a torna perfeita para equilibrar o caos emocional dos outros dois.
O mais curioso é que, por trás do crime e da comédia, a série acaba sendo sobre a solidão no meio da multidão. Esses três estranhos, presos em suas rotinas e arrependimentos, acabam se encontrando justamente porque algo terrível aconteceu. Isso é muito Nova York. Às vezes é preciso um cadáver para lembrar que a vida pode, sim, ter graça. E que todo mundo, por mais estranho que pareça, está só tentando encontrar alguém que escute, mesmo que seja num episódio de podcast mal editado.
Uma frase: “Não é que eu tenha medo de morrer. É que eu não quero estar lá na hora que isso acontecer.” - Woody Allen | Cineasta e Escritor
Um ótimo final de semana! Aproveite com sua família e amigos!